O Desafio do Jovem Cristão.
Ronaldo Pereira.
Ronaldo Pereira foi um jovem consagrado a Deus na Comunidade de Vida Shalom.
Durante alguns anos foi coordenador do Projeto Juventude para Jesus e, em 1995,
tendo apenas 24 anos, morreu em um acidente de carro, quando retornava de uma
missão. Trazemos neste artigo um trecho do livro “A violência do coração – O
desafio do jovem cristão”, lançado pelas Edições Shalom em 1996 e que é uma
adaptação para a linguagem escrita de uma das muitas palestras ministradas pelo
Ronaldo sobre o assunto. Vale a pena conferir e conhecer um pouco mais sobre a
vida desse jovem guerreiro que soube ofertar de forma incondicional a sua vida
pelos jovens. Ele havia dito muitas vezes: “Meu maior desejo é dar a vida pelos
jovens!”.
Lutas e opções
A vida do jovem sempre foi um grande desafio no decorrer da história da
humanidade. Além de ter de lidar com uma profunda modificação no seu próprio
corpo e psique, o jovem deve também estruturar-se em seu novo papel na
sociedade, corresponder ou não à expectativa familiar e social de sua
profissionalização, amadurecer em sua vida afetiva e relacionamentos, decidir o
seu estado de vida e buscar, em meio a todas essas tarefas desafiadoras, o
sentido último de sua existência.
É uma tarefa hercúlea, que talvez muitos adultos não tivessem estrutura para
enfrentar em poucos anos, como é exigido do jovem. Analisando a lista do
parágrafo anterior, poderíamos acrescentar, ainda, uma infinidade de sub-itens
a cada área. No entanto, alguém mais experiente poderia exclamar: “Veja bem,
resolvendo o último item da lista, você terá a solução para todos os outros”. É
verdade. Encontrando o sentido último de sua vida, o jovem (como, de resto,
qualquer outra pessoa) encontrará a condução para todos os seus desafios.
Acontece, porém, que esse “sentido último”, buscado há tantos séculos, tem sido
posto em cheque nos dias de hoje. Há alguns anos, toda sociedade – mesmo as
“não-crentes” – aceitava os valores morais cristãos sem questionamentos. O
respeito à vida, à família, a Deus e aos superiores eram valores
inquestionáveis. Havia clareza a respeito do que era “certo” e do que era
“errado”. Mais: todos procuravam agir de modo adequado à expectativa social, de
modo “certo”, e evitavam o modo “errado” de proceder.
Nos anos 60, os valores do cristianismo, toda autoridade e tudo o que chamavam
de “imposição social” começaram a ser questionados pelos jovens dos países mais
desenvolvidos. Seu modo de contestar era o comportamento exatamente contrário
ao que a sociedade e o cristianismo apregoavam como “certo”. Surgiu o “amor
livre”, a contestação da virgindade antes do casamento, o rock in roll, o uso
indiscriminado de drogas, as roupas sujas e esfarrapadas dos hippies, a defesa
do aborto legalizado, apregoando a supremacia do prazer sobre todo e qualquer
tipo de auto-domínio ou obediência a qualquer lei. A barulheira das músicas
cujas letras pregavam os novos ideais atestava que os jovens dos anos 60
rompiam impensadamente com todos os valores defendidos (mas nem sempre
vivenciados) por seus pais.
Estavam abertas as portas para o que Ralph Martin chamaria de pós-cristianismo
– conseqüência de muitos fatores que não nos cabe analisar aqui – mas, muito
além disso, os anos 60 geraram os “contra-valores” e levaram o
“pós-cristianismo” a desembocar no “anti-cristianismo” dos dias de hoje.
Jesus ensina que o nosso “sim” seja “sim” e o nosso “não” seja “não”, e
acrescenta: “tudo o que passa disso vem do Maligno” (Mt 5,37). Ele fala de
apenas dois caminhos opostos em sua forma e em seu destino: há um caminho largo
que leva à perdição, e um estreito, que leva à salvação (cf. Mt 7,13).
Jesus fala ainda dos “violentos de coração”. A transparência e a disposição ao
sacrifício propostos por Ele são radicalmente contestados pela mentalidade
anti-cristã. Não há mais valor no “sim” e no “não”, mas tudo se torna relativo.
Não há mais a Verdade, mas muitas verdades, dependendo da ótica de cada um. O
sofrimento não é sequer cogitado como algo contingente à vida humana, mas deve
ser evitado de todas as formas e substituído pelo prazer a qualquer custo. A
“felicidade” consiste em fazer a própria vontade, doa a quem doer, custe o que
custar, ainda que seja o sacrifício da vida dos filhos. O referencial paterno se
dilui cada vez mais em um “referencial” meio andrógino e confuso, que se adapta
a qualquer tipo de “família”: seja de casados, onde o pai está sempre ausente
ou, quando presente, não cumpre seu papel; seja de “descasados”, que se unem a
novos parceiros arrasando com o conceito de paternidade e maternidade,
lealdade, segurança e estabilidade
.